sábado, 23 de outubro de 2010

Forma x Função no Design Editorial

Partindo do conceito funcionalista proposto pelo arquiteto Louis Sullivan, forma segue a função, que influenciou toda a produção de design e arquitetura a partir do século XX, este artigo trás uma análise dos elementos do design editorial sobre os aspectos mais comuns da própria arquitetura. O objetivo aqui proposto é evidenciar e tornar mais claras algumas de suas semelhanças.

Desde os primórdios da civilização o ser humano cria e interfere no meio em que vive de modo a adaptá-lo para o seu bem estar, da mesma forma que ele se adapta para o mesmo. A estas ações pode-se estabelecer um caráter de certa forma intuitivo e irracional. Mas a partir do momento que é tomada a consciência das possibilidades dessas interferências e seus benefícios, atribui-se a essa necessidade de transformação um caráter arquitetural lógico, hoje em dia, muitas vezes associado a alguma demanda de mercado. São estes alguns dos princípios básicos que regem a prática projetiva do design assim como a arquitetura.

Em design, entende-se por demanda a necessidade de solucionar algum “problema” ou situação, dando uma forma ou aparência adequada a um “produto”. Este por sua vez, exercerá uma determinada função, configurando a expressão semântica do conjunto atribuído de certos valores simbólicos, ou seja, resultando em um projeto conceitual.

Segundo Kandinsky em seu livro Ponto e Linha sobre o Plano (1926), partindo de um sentido material, tem-se a definição de forma como um conjunto de pontos, linhas, planos e volumes, ou seja, todos os elementos visuais. Mas ao mesmo tempo, partindo do sentido estético, forma configura-se como estilo, maneira, como um elemento conceitual. A forma pode transmitir sentimentos e emoções, ao mesmo tempo que ela possui legibilidade no sentido de interação física com a percepção humana, sendo assim, ela é passível de pregnância. As leis da Gestalt trazem uma abordagem sobre o aspecto psicológico da forma, no que diz respeito a percepção humana. Apresenta de forma teórica os fenômenos da percepção humana, a maneira como os elementos visuais se configuram quanto a cor, textura, formato, direção, posição, peso representando aspectos funcionais do objeto.

O designer atenta-se a estes aspectos ergonômicos e sintáticos na fase de projetação de seus trabalhos. Tudo é importante, pois cada detalhe é capaz de inferir significados que por sua vez vão interligar-se emocionalmente com o usuário. A “forma” também possui outras maneiras de comunicação: através da abstração, da figuração, de símbolos e signos sobre a ótica de Pierce. Resta ao designer manipular estas informações de modo coerente e eficaz.

Adequar forma a função é prática comum dos programadores visuais das mais diversas áreas da criação. Trata-se da organização de elementos gráficos que definem a linguagem visual, que por sua vez constitui a base da criação do design. Neste sentido é comum a comparação entre o design e a arquitetura, designer e arquiteto, pois de certa forma o design é fruto ou extensão da própria arquitetura. A própria Bauhaus (1919), uma escola alemã que combinou as artes à arquitetura como meio de produção, deu origem a um sistema de design, que delineou uma série de princípios do mesmo, uma vez que se desenvolviam soluções de projeto para problemas do cotidiano.

Wassily Kandinsky foi um exímio estudioso da forma e suas propriedades. Ele interpretava os elementos visuais através de uma noção exterior ou interior, onde exteriormente, toda a forma gráfica ou pictural é um elemento, já interiormente, não é a forma, mas a tensão viva que lhe é intrínseca, pode-se traçar uma relação entre significante e significado.

No campo do design gráfico de um modo geral, temos o projeto editorial como grande meio de transformação do espaço e da forma. Ele permeia as mais diversas soluções criativas, permeando o impresso e o digital, do físico ao imaterial. Possui também diversos elementos os quais configuram a paleta do designer, como a tipografia, uma das principais ferramentas de comunicação.

A tipografia é um exemplo clássico de forma adequada a função. A morfologia das letras cria um diálogo imagético, ela intermedia a comunicação entre os interlocutores, o usuário e a informação. Uma tipografia serifada transmite uma mensagem diferente da mensagem de um tipo sem serifa, da mesma forma podemos identificar incontáveis relações: como um eixo humanista que difere de um eixo racionalista, a disposição das palavras em determinada composição que determinará certa mensagem, etc. Cada uma dessas características sintáticas carrega consigo elementos simbólicos.

Do mesmo modo que a “forma” ganha significados através de sua estrutura, em termos de grid e diagrama, as cores também podem ser determinantes de significados. As cores como elementos estruturais classificam-se como articuladores da forma, na medida em que estabelecem relação de hierarquia entre os elementos constituintes da peça gráfica.

A hierarquia, como recurso harmônico no aspecto compositivo, é crucial para o resultado eficaz do projeto. É importante definir a estrutura do projeto como um todo. Em um projeto gráfico, pode-se prezar pelo equilíbrio formal, simétrico ou assimétrico, diferenças entre pesos e contrastes dos elementos; a composição simétrica, define um caráter formal; a composição assimétrica permite múltiplas possibilidades de tensões, provocadas pela falta de um centro definido.


Sendo assim, a relação entre forma e função define os parâmetros para a criação dos projetos de design, assim como os de arquitetura, uma vez que configuram os elementos estruturais e visuais que irão definir a interação da peça com o usuário.


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Artigo elaborado sob demanda da disciplina Prática Projetual III do curso de Design Gráfico da UEMG, para compor o conteúdo do projeto editorial desenvolvido durante o semestre. 2008. (Download .PDF)


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Percepções Sobre uma Nova Era Comunicacional

Tendo em vista o novo cenário instaurado na sociedade pós-moderna, tratando-se da hipermodernidade por assim dizer, no que diz respeito aos movimentos sociais e às inteligências coletivas, é notável que a revolução tecnológica trouxe uma série de novos recursos midiáticos para sociedade. Transformando os paradigmas sobre o tempo, espaço e as próprias relações interpessoais, essas mudanças afetaram diretamente o dia-a-dia das pessoas. A partir destas novas variáveis é possível extrair pontos positivos e pontos negativos, já que todo momento de mudança consiste em apresentar situações a serem refletidas e ajustadas.

Em torno de todos estes novos parâmetros que o universo midiático nos trás, contudo sobre a internet, ainda não é possível prever resultados de longo prazo, porém já se pode identificar alguma mudança recente, ou algum próximo passo, devido ao ritmo progressivo destes novos eventos. Sem dúvida a internet possibilitou e potencializou, acima de tudo, a conectividade entre pessoas, empresas, lugares, e em seu melhor aspecto, configurou o que se entende por ciberesespaço. Um ambiente virtual capaz promover a sensação de estar mais próximo de alguém em qualquer lugar, a qualquer hora.

Contudo, podemos apontar a questão da interface como interferência do contato que temos com as coisas e a exigência que a internet nos instiga, a de estarmos conectados o tempo todo. Um dos pontos mais importantes sobre estas questões é o efeito que a rede tem causado nas relações interpessoais e comportamentais do cotidiano. O que é manifestado dentro da rede influencia e interfere no comportamento fora dela. Exemplos destas situações são reconhecidas ao observar que, hoje, as pessoas sentem-se sufocadas pela falta de tempo, e colocam para si a missão de manter contato com todos seus conhecidos. Trabalham em doses homeopáticas quando não estão no escritório, e retratam suas viagens para que o mundo inteiro possa acompanhá-la. Passamos a dar muita importância ao que criamos, ao que falamos e ao conteúdo que inserimos na rede, mais do que muitas vezes nossas próprias vivências. Identificamos aí a valorização excessiva do “eu”, da individualidade do ser.

O impacto das novas tecnologias sobre os movimentos sociais atuais trazem uma nova perspectiva para a interconexão entre as pessoas, elas apontam para a mudança dos hábitos e dos costumes destas novas comunidades virtuais. A tendência é que a aceitação desta nova realidade torne-se um processo cada vez mais acessível e tênue, uma vez que os novos jovens e as novas gerações já crescem e desenvolvem-se amparadas por esta nova realidade. Os problemas hoje identificados não passarão de momentos históricos vivenciados e superados.

Texto de autoria coletiva entre Akemi Takenaka e Thiago Barcelos.

sábado, 2 de outubro de 2010

Abrigo #3: Conclusão

Após as discussões e gerações de alternativas, chegamos a um ponto em comum: "Trabalhar o abrigo para a propaganda", tratando-se de um elemento caótico na sociedade visual, no sentido de aguçar os sentidos sob o viés da própria vulnerabilidade humana a esses estímulos. Procuramos trabalhar o percurso em um ambiente caótico repleto de informações espalhadas em diversos planos, suportes e dimensões.

Foram aproveitados elementos constituintes das vias urbanas, com destaque para a placa de trânsito.Por sua função de informar (um recurso de sinalização), e também como suporte para as estruturas da instalação.



Portanto, o foco da instalação foi a utilização em massa de propagandas, notícias, panfletos, folders e impressos em geral, estimulados através de pequenos motores de 3v. Foram utilizados alguns panfletos do grupo Poro como "Ver é engolir", "Siga sem pensar" para instigar os transeuntes de alguma forma.

Como demanda da disciplina elaboramos um caderno técnico contendo todo o processo, especificações técnicas e registros da instalação que pode ser visualizado através deste link.


O registro videográfico pode ser visto no YouTube ou logo abaixo: